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Carlos Alberto |
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José Pacheco |
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José Pacheco |
Ora até que
enfim encontrei um camarada que viajou comigo no navio Vera Cruz, embarque no
dia 11 de Junho de 1971.
O navio Vera Cruz chegou a Luanda no
dia 22 já á tardinha e ficamos ao largo, só tendo desembarcado no dia 23. No
dia 23, eu e outro Páraquedista Boina Verde, foi sair do barco e apanhar logo
um avião para Moçambique, os outros dois ficaram em Angola. Cheguei a Lourenço
Marques Moçambique no dia 23 de junho de 1971,á tardinha, depois fui para a
Beira e imediatamente no mesmo dia para Nampula, Norte de Moçambique. O seu
marido deve lembrar-se dos quatro Páraquedistas, Boinas Verdes que viajavam no
navio, era-mos só quatro eu era entre todos os militares a bordo, sargentos e
soldados, o mais velho do navio, porque iam muitos milicianos, só havia um
capitão Barquinho da Força Aérea que era mais velho do que eu. Eu já tinha
nessa altura dois anos de tropa. Ele deve-se lembrar do levantamento de rancho
que nós fizemos no refeitório á hora do almoço, porque durante dois ou três
dias só nos davam arroz de frango (arroz de estilhaços) e eu revoltei-me. Eu
levantei-me da mesa, quando os criados trouxeram o comer e todo o refeitório se
levantou, ninguém comeu nada, veio o Oficial de Dia que era esse tal capitão
Barquinho, era o único oficial e ainda por cima do serviço geral que viajava no
navio, perguntou quem era o mais velho ? Eu disse logo eu! Perguntou-me o que é
que se passava e eu expliquei-lhe que não comia-mos porque era sempre o mesmo e
perguntei-lhe se o navio não levava mais nada para comer?
A partir daí as refeições mudaram logo,
começou a aparecer saladas de tomate, bifes, assim como o pão era duro e passou a ser mole,
o vinho não davam mais e passaram a dar, é que como a tripulação do navio era
civil, guardavam a carne e o melhor para venderem sendo o dinheiro para eles
claro, (candonga), mas naquela viagem o negócio saiu-lhes errado!
Ao mesmo tempo foi divinal e é bom
recordar estas passagens, naquele levantamento de rancho parecia que estava
tudo combinado.
E as garrafadas no Funchal Madeira, á
saída do navio ?
As garrafas vazias de cerveja batiam na
calçada do porto pareciam granadas. O pessoal do Exercito não teve autorização
para sair do navio no Funchal, mas nós os quatro saímos.
Eu briguei com o Capitão Barquinho da
Força Aérea, disse que lhe dava um tiro na cabeça, porque ele disse que ia fazer uma participação de mim, saímos na mesma do navio mesmo sem
ordem e ele não fez participação nenhuma .
Foi muito bom conhecer o Funchal,
lembro que comi lá um Bife, com batatas fritas e ovo que parece que até hoje
não comi outro igual, fiz compras e eles mandaram para o continente.
E quando parámos em São Tomé em que
vieram os indígenas em canoas feitas de tronco de arvores, carregadas de
bananas roxas, vender junto ao casco do navio porque o navio não podia atracar
por falta de profundidade, então tivemos que ficar ao largo!
Aí também foi muito engraçado porque os
de cima do navio nos pisos mais altos, como era o meu caso, vinha em segunda
classe, mandava o dinheiro para baixo nos cestos e a malta dos porões que era do
exercito, apanhavam as bananas e os abacaxis. Isso ainda deu chatice, tive que
ir lá a baixo brigar com a malta, senão pagava e não comia nada.
Se não me pusesse a pau, não me calhava
mesmo nada porque a malta no caminho dos cestos roubavam tudo, ainda ameacei
alguns que pilhavam tudo e não pagaram nada, por fim lá apanhei o que comprei,
mas foi apanhado por eles e vieram entregar-me á mão, mas ainda tive que descer
ao porão e ameaçar uns gajos do exercito que estavam logo a seguir á saída dos
cestos, apanharam muitas bananas dos outros sem pagar, os outros pagaram e não
comeram nada.
No final tudo correu bem o pior foi
aquele nosso camarada coitado que caiu á água e nunca mais o vimos.
Cumprimentos ao seu marido minha
senhora, a si também e a toda a família.
José Pacheco
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